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Memória dos Intereclesiais

Encontros Intereclesiais das  CEBs

Há quase cinco décadas, sob o influxo do Vaticano II e no calor das Conferências Latino-americanas do episcopado reunido em Medellín e Puebla, as comunidades eclesiais de base pulularam como uma pequena “flor sem defesa” . Depois, na década de 1970 veio o seu aprumar. Foi nesse momento que surgiram os Encontros Intereclesiais de CEBs, cujo objetivo era uma maior e melhor articulação das comunidades dispersas pelo Brasil .

A partilha de experiências durante os encontros é um dos traços marcantes. Os relatos da caminhada das comunidades, seus desafios, sofrimentos, lutas e conquistas, uma vez socializados, tornam patente a unidade até mesmo nos problemas e aponta para questões teóricas e práticas. O panorama apresentado fornece aos assessores referências para um aprofundamento teológico e sociológico.

Foi justamente nos Intereclesiais que foram produzidos os primeiros e mais destacados trabalhos teológicos e sociológicos a propósito das CEBs, o que suscitou uma expressão de uma eclesiologia mais autóctone, com traços marcadamente latino-americanos.

A participação seja dos delegados e delegadas leigos, seja de membros do clero, foi progressiva ao longo dos encontros intereclesiais. Também a dinâmica dos encontros passou por uma modificação, passando de uma postura reflexiva para uma mais celebrativa, especialmente a partir do VI Encontro de Trindade (GO). A participação das bases foi cada vez mais significativa, sobretudo a partir do II Encontro de João Pessoa, em 1978, quando elas passaram a assumir a organização, a condução, a reflexão e o processo decisório do Encontro.

Sem sombra de dúvida, outro aspecto de relevo nos intereclesiais – além da partilha e das reflexões – é o fato de cada encontro constituir-se numa fonte de animação para as comunidades. Cria-se a familiaridade, a unidade, o sentimento de pertença recíproca, o que gera ânimo, força na autoconsciência e auto realização, esperança e entusiasmo. Numa expressão, trata-se de uma estrutura de apoio, que reforça a eclesialidade das CEBs .

A década de 1970 representou, para as CEBs, um momento de efervescência muito significativa, de vitalidade em sua articulação dialética entre fé e vida, de criatividade bíblica e litúrgica, de sua manifestação pública mais ostensiva. O fechamento político da época, a censura a vários canais de expressão popular levou a uma atuação da pastoral popular de forma mais incisiva e da opção pela defesa da vida. O crescente empobrecimento do povo, o recrudescimento da violação dos direitos humanos e da repressão generalizada suscitou o compromisso de engajamento social dos setores sociais da Igreja, mormente das CEBs.

A conjuntura eclesial mais ampla estimulava este compromisso social . A Igreja ensaiava os primeiros passos nos caminhos de abertura do Vaticano II, incentivando as experiências inovadoras das Igrejas locais e as práticas evangélico-libertadoras. Na América Latina, Medellin gerava seus frutos.

1º Encontro Intereclesial das CEBs

A década de 1960 foi marcada pelo surgimento das Comunidades Eclesiais de Base; já a década subsequente, de sua expansão e fortalecimento. No princípio, muitas das comunidades de base eram experiências isoladas no interior das paróquias ou dioceses que as tomavam como prioridade pastoral. Com sua multiplicação e diversificação, brotou a necessidade de uma maior articulação entre as comunidades.

A ideia do primeiro Intereclesial de CEBs nasceu de uma conversa informal entre o bispo auxiliar de Vitória, Dom Luiz Gonzaga Fernandes, o historiador Eduardo Hoornaert e o dominicano Frei Betto  num banho de praia em janeiro de 1974. Um ano depois, entres os dias 6 e 8, na cidade de Vitória, do Espírito Santo, aconteceu o primeiro Intereclesial de CEBs. Participaram do evento cerca de 70 pessoas, representando várias dioceses de 12 estados diferentes. Entre eles estavam 5 bispos e vários animadores e animadoras leigos e leigas e agentes de pastoral das comunidades de várias partes do país.

O tema do Encontro foi: Uma Igreja que nasce do povo pelo Espírito de Deus”. A expressão hoje amplamente conhecida “Igreja que nasce do povo” surgiu neste intereclesial, que trazia em seu bojo uma nova eclesiologia, nascida de uma nova consciência a partir de um novo jeito de ser Igreja.

Teve como objetivo “delinear o perfil e descobrir as características futuras da Igreja nova que nasce no meio do povo, principalmente através das comunidades eclesiais de base”  .

Foram dias de grande troca de experiências, reflexões e orações. Resultou, no campo eclesiológico, num questionamento: como fazer nascer da Igreja clerical uma Igreja popular, numa nova afirmação da Igreja enquanto Povo de Deus?  No aspecto político, reforçou-se a necessidade de uma presença mais significativa da Igreja na luta pela libertação do povo. Cultura e religião populares foram outros temas de acaloradas discussões.

A novidade da leitura popular da Bíblia, em sua dimensão evangelizadora, entrava em conflito com a tradição da religiosidade popular, várias vezes considerada como meio de alienação. Mas, ao cabo do encontro, surgiu o propósito de superação da exploração da religião popular, bem como a superação da indiferença ou destruição com relação a ela.

2º Encontro Intereclesial das CEBs

O segundo Encontro Intereclesial de CEBs aconteceu entre os dias 29 de julho e 1° de agosto de 1976, também em Vitória (ES). Como no primeiro encontro, a preparação se deu solicitando-se às comunidades que preparassem relatórios contando os passos da caminhada, tendo em vista a pedagogia libertadora nas CEBs .

Participaram do encontro cerca de 100 pessoas, representando 24 dioceses de 17 estados brasileiros. A metade dos presentes representava as comunidades (base) e a outra metade era constituída por agentes de pastoral, bispos e assessores. Participaram 13 bispos brasileiros e 3 convidados estrangeiros, sendo 2 do México.

O tema foi: Igreja, povo que caminha. A partir daí começa-se a delinear a identidade das CEBs; passa-se a utilizar o jargão “caminhada”. Identificadas as semelhanças entre si, as várias comunidades eclesiais de base passam a se tratar como companheiras de caminhada. As CEBs dão seus primeiros firmes passos, tendo os pequenos à frente.

3º Encontro Intereclesial das CEBs

Foi entre os dias 19 e 23 de julho de 1978 que se realizou o terceiro Intereclesial de CEBs, na cidade de João Pessoa (PB). Comemorou 10 anos de Medellín, que deu à Igreja latino-americana uma dinamicidade pastoral libertadora, bem como partilhou da expectativa da Conferência de Puebla, que viria a ocorrer em janeiro de 1979.

O encontro contou com a participação de aproximadamente 200 pessoas, sendo que 2/3 vinham das bases, representando 47 Igrejas do Brasil. Participaram 17 bispos, 9 assessores e assessoras e 18 agentes de pastoral. Dentro do espírito ecumênico, estiveram presentes um assessor (Jether Pereira Ramalho) e 3 outros representantes dos evangélicos. Participaram ainda, o cacique xavante Aniceto , além de outros convidados do México, Bélgica e Nova Iorque.

Neste Encontro a participação popular foi muito intensa. O tema do Encontro já apontava para este novo aspecto: Igreja: povo que se liberta. Depois de tantos anos silenciado, o povo fiel e oprimido expressava seu clamor. Como povo sujeito da construção da sociedade e da Igreja, impunha-se com a força de sua palavra, união e coragem.

4º Encontro Intereclesial das CEBs

Tanto a conjuntura política quanto a eclesiástica internacional sofreu transformações significativas no início dos anos 80 que repercutiram na Igreja no Brasil. Especialmente a partir do pontificado de João Paulo II (1978), começa a tendência de afirmação de uma nova identidade católica, que buscava um novo equilíbrio na Igreja, reordenando o que o Concílio Vaticano II revolvera . O episcopado nacional, em seu grupo conservador, já não tinha muita simpatia pelas CEBs, o que suscitava muitos questionamentos .

O quarto Encontro Intereclesial foi realizado em Itaici (SP), de 20 a 24 de abril de 1981. Como no encontro anterior, as bases organizaram e participaram, levando à frente a coordenação e a condução do Encontro.

Participaram em torno de 280 pessoas, de 71 dioceses e de 18 estados do Brasil. Deles, 184 eram representantes das bases, 56 eram agentes de pastoral, 15 eram assessores e 17 bispos que se fizeram presentes durante todo o Encontro.

O tema era: Igreja, povo oprimido que se organiza para a libertação. Dentre seus objetivos, destacam-se: a troca de experiências, a celebração da fé e o aprofundamento crítico das lutas reivindicatórias, sindicais e político-partidárias.

5º Encontro Intereclesial das CEBs

O quinto Encontro Intereclesial de CEBs ocorreu em Canindé (CE), de 4 a 8 de junho de 1983. Teve uma dimensão nacional, já que contou com a participação de aproximadamente 500 pessoas, de 134 dioceses de quase todos os estados do Brasil. 234 dos participantes eram membros da base, 60 eram agentes de pastoral; 30 eram bispos, 15 assessores, 16 observadores, 7 da imprensa e 114 das equipes de serviço.

O tema geral do Intereclesial foi: CEBs: povo unido, semente de uma nova sociedade. A troca de experiência e as reflexões levaram à conclusão de que, além das dificuldades externas que as CEBs enfrentavam, existiam também dificuldades internas, ligadas às precárias condições de vida da base popular. Na Carta de Canindé, os participantes manifestaram seu desejo de conhecer e combater as causas da desgraça social.

As liturgias e celebrações ocuparam um lugar de grande importância no Encontro. Todos os dias, de manhã e de tarde, aconteciam celebrações com grande participação e criatividade, elaboradas pelos próprios participantes.

6º Encontro Intereclesial das CEBs

O sexto Encontro realizou-se na cidade de Trindade (GO), de 21 a 25 de julho de 1986. Participaram 1647 pessoas, das quais 742 eram representantes das bases, 203 agentes de pastoral, 30 assessores, 51 bispos, 16 representantes de Igrejas evangélicas, 10 representantes dos povos indígenas, 56 observadores latino-americanos, 35 observadores nacionais, 17 observadores de outros países, além do pessoal da imprensa, documentação e equipes de serviço.

O tema escolhido foi o seguinte: CEBs, Povo de Deus em busca da Terra Prometida, ligado ao tema da Campanha da Fraternidade de 1986 como também provocado pelo agravamento da situação agrária no Brasil. Para encaminhar a preparação do Encontro foi criada em 1985, em nível regional, uma Comissão Ampliada. É significativo assinalar a origem da Ampliada Nacional, constituída nos preparativos do Encontro de Trindade, como grupo de apoio e serviço de preparação à Igreja que sediava o Intereclesial . Sua criação foi uma maneira de se garantir a presença dos regionais como um trabalho coordenado nacionalmente e de se garantir também a preservação da memória dos encontros.

O novo jeito de ser Igreja que caracteriza as CEBs foi um dos temas de reflexão e aprofundamento que surgiram neste encontro. Clodovis Boff destacou três ideias fortes que definiram este novo modo de ser Igreja: a) A Palavra de Deus, b) a participação; c) a luta. A analogia da roda serviu para ele demonstrar melhor a experiência das comunidades com conjunto organizado: “O eixo é a Palavra de Deus. Os raios são os ministérios, as tarefas. O aro são as lutas da comunidade, que fazem o povo caminhar na história”  .

Outro aspecto relevante do VI Encontro foi a reflexão sobre a especificidade da luta das mulheres, negros e indígenas. É um marco na caminhada das CEBs, pois se reconhece agora outros planos de opressão social: a racial, a étnica e a de gênero (sexual). Dois outros temas assumirão um lugar de destaque nos encontros subsequentes: a questão latino-americana e o ecumenismo.

7º Encontro Intereclesial das CEBs

O sétimo encontro Intereclesial aconteceu num delicado momento da conjuntura eclesial, quando havia suspeitas e acusações contra teólogos – Leonardo Boff e Carlos Mesters; desarticulação de projetos pastorais de largo alcance que estavam em sintonia com a causa popular; algumas autoridades eclesiásticas começaram a publicar artigos eivados de interrogações sobre a experiência das CEBs.

O Encontro realizou-se entre os dias 10 e 14 de julho de 1989, em Duque de Caxias (RJ), trazendo como lema: CEBs: povo de Deus na América Latina a caminho da libertação. Como temas de conteúdo, foram apontados a eclesialidade das CEBs, o seu rosto latino-americano e sua relação com a libertação. Outras questões, consideradas pertinentes, foram destacadas: a solidariedade latino-americana, fé e política, a mística libertadora, a caminhada ecumênica, a questão urbana, a maior articulação das CEBs, dentre outras.

Entre os participantes, estavam 1.106 delegados regionais, 85 bispos católicos, 39 assessores, 61 membros da Ampliada Nacional e Equipe Central, 120 delegados de 12 Igrejas evangélicas, incluindo 43 pastoras e pastores e 5 bispos, 30 representantes dos povos indígenas, 83 participantes de 19 países da América Latina e 92 convidados entre nacionais e estrangeiros. Somando estes aos representantes da imprensa e membros das equipes de serviço, perfez-se um total de mais ou menos 2.550 pessoas.

Apesar da delicada situação eclesial, o VII Intereclesial foi uma expressão viva do apoio da Igreja brasileira à experiência eclesial das CEBs. A presença de quase 90 bispos católicos, de toda a presidência da CNBB, de tantos leigos, religiosos, sacerdotes e pastores de diversas denominações religiosas já sinalizava a aprovação e esperança no vigor das CEBs como presença de vida para toda a Igreja universal.

A questão ecumênica foi um dos destaques no VII Encontro Intereclesial. Com relação aos povos indígenas, a aparição de um rosto novo de Deus através de cada povo indígena foi significativa. A dimensão celebrativa foi outro traço marcante.

8º Encontro Intereclesial das CEBs

Os anos da década de 1990 foram testemunhas de grandes transformações sócio-políticas e econômicas. Colapso do comunismo no Leste Europeu (1989); adoção da política neoliberal também no Brasil; crise da ideia de uma nova sociedade, tanto nos movimentos populares quanto nas CEBs; continuidade do projeto centralizador levado em frente pela Santa Sé, desde a década de 1980.

O oitavo Encontro Intereclesial realizou-se em Santa Maria (RS), de 08 a 12 de setembro de 1992, quando toda a sociedade civil unia-se contra a corrupção do governo Collor, que acabou levando ao impeachment. A situação eclesiástica era, como vimos, igualmente desfavorável.

O Encontro contou com a participação de 2238 delegados brasileiros, representando suas comunidades, bem como 88 de outros países da América Latina e Caribe. Entre os participantes, 1469 eram leigos, 335 religiosos, 98 bispos (dos quais 66 católicos), 50 assessores, 106 evangélicos (dos quais 35 pastoras e pastores), 43 indígenas, 1 pajé, 1 mãe de santo, além das 40 equipes de serviço.

O tema da cultura (CEBs: Culturas oprimidas e a evangelização na América Latina) como eixo nucleador do Encontro, definido em virtude da sintonia com o tema da IV Assembleia Episcopal Latino-americana em Santo Domingo, que se realizaria um mês após o Intereclesial, acrescentou um elemento novo na tradição dos Intereclesiais. Além disso, a temática da inculturação nas CEBs foi causa de um certo constrangido conflito, pois tocava na questão de que a Igreja, com relação à cultura se reveste de um papel opressor, já que ela se mostra marcada por uma cultura branca, machista, ocidental e que, em seus centros de poder, sente dificuldade com a inculturação profunda da fé, da liturgia, da canonística no mundo negro, ameríndio e feminino.

O oitavo Encontro demonstrou um amadurecimento litúrgico e espiritual das CEBs. Calaram-se os discursos para que a Palavra soasse.

 

9º Encontro Intereclesial das CEBs

O nono Intereclesial aconteceu em São Luís do Maranhão, de 15 a 19 de julho de 1997. Teve como tema: CEBs: Vida e Esperança nas Massas. Foi o primeiro encontro dentro do perfil definido no diálogo CEBs-CNBB: católico, porém aberto ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso.

O contexto social estava marcado pela hegemonia do neoliberalismo, que provocava o recuo de todo pensamento alternativo. O contexto eclesial era o do pós-Santo Domingo, marcado pela consolidação do centralismo eclesiástico.

O Intereclesial do Maranhão contou com a participação de quase 3 mil delegados.

Os pontos salientes, tratados no Intereclesial foram os seguintes: Catolicismo Popular, Raízes indígenas e africanas da religião popular brasileira, Pentecostalismo, CEBs e o povo negro no Maranhão, O Movimento Popular, CEBs e massa, Cultura Indígena e Cultura de Massa.

Nos dizeres de Reginaldo Veloso, “o 9° Intereclesial das CEBs não pôde ser menos do que um amplo e vibrante ‘Magnificat’”.

10º Encontro Intereclesial das CEBs

O décimo Encontro aconteceu em Ilhéus, Bahia, entre os dias 11 e 15 de Julho de 2000. Três momentos formaram o eixo metodológico das reflexões: a) memória, recuperando a caminhada pessoal de cada participante; b) sonhos, despertando a utopia de uma Igreja e uma sociedade novas; c) compromisso para com a Igreja e para com a sociedade.

Outras questões surgiram e foram motivo de atenção, como a questão das celebrações das CEBs e a Eucaristia; a diferença do ecumenismo no Encontro e nas bases; a tensão entre CEBs e Renovação Carismática; a relação entre CEBs e clero, destacadamente o clero mais novo – que se compromete cada vez menos com as CEBs; a questão indígena.

Participaram 3036 pessoas no X Intereclesial: 1565 homens e 1471 mulheres. 2395 delegados. Dos 72 evangélicos presentes, 4 eram bispos, 37 pastores(as), 31 leigos(as). Participaram ainda 45 pessoas da Ampliada Nacional, 62 da América Latina, 64 assessores(as), 63 bispos católicos, 7 das religiões afro-brasileiras e 65 indígenas .

O tema: CEBs: Povo de Deus, 2000 anos de caminhada resumiu o olhar voltado para o passado, levantando a herança evangélica vivida pela Igreja nos seus 2000 anos de existência e pelas CEBs nos seus 3 decênios de existência no Brasil. Para o futuro se projetaram 3 perguntas: O que conservar integralmente? O que manter, mas com alterações? O que criar de novo?

No décimo Encontro apareceu explicitamente a centralidade da Bíblia . A Bíblia é lida, celebrada e torna-se fonte de vida. Assim sendo, foram pedidos cursos bíblicos. O trabalho do CEBI foi amplamente reconhecido.

De resto, podemos constatar que há três características que marcaram presença nos Intereclesiais, de maneira ora mais ora menos acentuadas, a saber: a) a referência à Palavra de Deus, considerada sempre como o núcleo fundante e elemento de identidade e da vida das CEBs. b) As celebrações, como pontos altos dos encontros. c) A comunhão eclesial, existente, seja por causa da presença de padres e bispos, seja pela maneira com a qual as CEBs testemunhavam sua relação com a estrutura eclesiástica e seus pastores.

11º Intereclesial das CEBs

O 11° Intereclesial realizou-se em Ipatinga (MG), de 19 a 23 de julho de 2005, em busca de caminhar alicerçados na espiritualidade libertadora vivida com mais profundidade a partir da experiencia.

O tema abordado: ‘CEBs, Espiritualidade Libertadora, e o lema: ‘Seguir Jesus no compromisso com os excluídos’.

O encontro contou com a participação de 3.806 participantes, dos quais 3.219 eram delegados, 112 assessores, 89 indígenas, 288 convidados, sendo aproximadamente 3.000 leigos e leigas, 420 religiosas e religiosos, 380 padres, 50 bispos católicos e 2 anglicanos e a participação de 70 pessoas vindas de outros países.

Participaram ainda 48 pessoas de outras onze Igrejas cristãs, das quais 23 eram pastoras e pastores. Sendo acolhidos também representantes de 32 povos indígenas e de outras religiões e culturas afro-brasileiras. Em união com os 250 jovens das Pastorais de Juventude de todo Brasil, acampados no Parque Ipanema, em comunhão com os participantes do encontro.

Para valorizar, ao máximo, a riqueza da experiência trazida pelas pessoas, estas foram organizadas em seis blocos chamados de Locomotivas, subdivididas em vagões que aprofundaram o tema da Exclusão, relacionando as CEBs com a Espiritualidade libertadora; com a Dignidade humana e a Promoção da Cidadania; com a Formação de Novos Sujeitos, capazes de contribuir para construção de um outro mundo possível; com a Via Campesina, tendo presente a ecologia, a questão do uso da terra e da água no campo e nas cidades, a reforma agrária; e, finalmente, com a Educação Libertadora.

12º Intereclesial das CEBs

O 12° Intereclesial realizou-se em Porto Velho, capital do estado de Rondônia, de 21 a 25 de julho de 2009, à luz do tema: ‘CEBs, Ecologia e Missão’, e do lema ‘Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia’.

Participaram do encontro 3.010 delegados, representantes dos 26 estados e do Distrito Federal, sendo 1.234 mulheres, 940 homens. Os bispos somaram 56, os padres 331, as religiosas 197, os 41 religiosos e os 38 povos indígenas.

Os milhares de participantes saíram e chegaram do “porto”, seguindo para os 12 “rios” e depois para as 144 “canoas”.

Nos rios, espaços, cedidos por escolas e igrejas, foram batizados de rio Araguaia, rio Tapajós, rio Tocantins, rio Guamá, rio Juruá, rio Gurupi, rio Itacaiúnas, rio Madeira, rio Guaporé, rio Jari, rio Purus e rio Oiapoque. Nesses espaços ocorreram estudos, debates, mística e leitura orante da Bíblia, tudo temperado com muito canto e alegria.

Foi nesses “rios” que aprendemos sobre os gritos e lutas que vêm da Amazônia e também os gritos e lutas que vêm dos outros biomas brasileiros  – Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas – e da América Latina e Caribe. Finalmente, conhecemos, em mutirão, quais são os sinais existentes na construção da tão sonhada “Terra sem males” e de “Um novo céu e uma nova terra”. Em apertada síntese, podemos dizer que os gritos e lutas partilhadas no 12º Encontro Intereclesial de CEBs podem ser agrupados em cinco grandes gritos: o grito da terra, o grito das águas, o grito das cidades, o grito das florestas, o grito das comunidades tradicionais.

“Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares não importantes, conquistam coisas extraordinárias”. Essa frase, proferida por Dom Moacyr Grechi, arcebispo da arquidiocese de Porto Velho, dão-nos a certeza de que somente a partir dos pequenos, com os pequenos, na base da Igreja e da sociedade, poderemos criar em uma vida melhor, mais justa e mais fraterna.

13º Intereclesial das CEBs

O 13° Intereclesial realizou-se na cidade de Juazeiro do Norte, na diocese de Crato, Ceará, de 07 a 11 de janeiro de 2014, com o tema: ‘Justiça e profecia a serviço da vida’, e lema: ‘CEBs, Romeiras do Reino no campo e na cidade’.

Participaram do encontro 4.036, desses 2.248 mulheres e 1.788 homens, 72 bispos, 232 padres e 146 religiosos e religiosas, 75 lideranças indígenas; 20 membros de outras Igrejas cristãs, 35 pessoas pertencentes a outras religiões, 36 estrangeiros e 68 assessores e membros da coordenação ampliada.

Pela primeira vez na história, um Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base recebe uma mensagem de um papa. A mensagem do papa Francisco dirigida aos participantes do 13º Intereclesial trouxe muita alegria e renovou a esperança de uma Igreja pobre e dos pobres comprometida com a justiça e a profecia a serviço da vida.

Na mensagem, o papa afirma que as CEBs “trazem um novo ardor evangelizador e uma capacidade de diálogo com o mundo que renovam a Igreja” e assegurou suas orações para que o Intereclesial seja um encontro abençoado.

Sobre o lema do evento, o papa disse que deve ser como uma chamada para que as CEBs assumam cada vez mais seu papel na missão evangelizadora da Igreja. “Todos devemos ser romeiros, no campo e na cidade, levando a alegria do Evangelho a cada homem e a cada mulher”, acrescenta Francisco.

No Ginásio poliesportivo, denominado Caldeirão Beato José Lourenço, ecoaram os testemunhos de uma igreja martirial, encarnada e comprometida com a causa dos pobres: povos indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e demais sofredores e com a causa do ecumenismo na promoção da cultura da vida e da paz, do encontro.

Toda esta riqueza de partilha foi aprofundada e vivenciada nos grupos em diversas escolas, ranchos e chapéus, situadas em Juazeiro do Norte e no Crato, nas visitas missionárias às famílias e a algumas instituições, na celebração em memória dos profetas e mártires da fé, da vida, dos direitos humanos, da justiça, da terra e das águas culminando com a grande romaria no Horto aos pés do Pe. Cícero Romão Batista, o patriarca de Juazeiro do Norte e da Nação Romeira.

A experiência dos Intereclesiais

No documento 92 da CNBB, Mensagem ao povo de Deus sobre as comunidades eclesiais de base, encontramos a seguinte afirmação sobre os Intereclesiais:

Os Encontros Intereclesiais das CEBs são patrimônio teológico e pastoral da Igreja no Brasil. Desde a realização do primeiro, em 1975 (Vitória – ES), reúnem diversas dioceses para troca de experiência e reflexão teológica e pastoral acerca da caminhada das CEBs. Foram treze encontros nacionais, diversos encontros de preparação em várias instâncias (paróquias, dioceses, regionais) e, desde a realização do 8º Intereclesial ocorrido em Santa Maria – RS (1992), são realizados seminários de preparação e aprofundamento dos temas ligados ao encontro.

Manifestação visível da eclesialidade das CEBs, os Encontros Intereclesiais congregam bispos, religiosos e religiosas, presbíteros, assessores e assessoras, animadores e animadoras de comunidades, bem como convidados de outras igrejas cristãs e tradições religiosas. Neles se expressa a comunhão entre os fiéis e seus pastores.